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10 de novembro de 2015

Mãe de 1ª viagem cria 'rede' para mulheres desabafarem sobre o 'lado sombrio' da maternidade

Thais Cimino teve a ideia de criar uma página para auxiliar outras mulheres que enfrentam dificuldades, desde a gestação até o nascimento do filho, depois de ter sido obrigada a desmamar a filha, Vida. 
(Foto: Arquivo Pessoal)

"Tive que desmamar a minha filha abruptamente. Foi extremamente desgastante porque, além do sofrimento, me sentia mal em dar mamadeira em público para ela. Era como se todos estivessem me olhando e me julgando. Me sentia uma criminosa". A declaração é de Thais Cimino, criadora do projeto "Temos que Falar Sobre Isso", onde mulheres que, assim como ela, sentiram os corações apertados e perderam a tranquilidade durante a gestação, desabafam sem medo de censuras.

Thais conta que, quando Vida nasceu ela passou por momentos difíceis, especialmente relacionados à amamentação. "Tive um abcesso mamário, passei por uma cirurgia para drenar a inflamação e como a cicatrização se dá de dentro para fora, eu fiquei com o corte aberto que demorou cerca de um mês para fechar". Para piorar a situação, esses momentos foram vivenciados quando ela estava em outro país e ainda não dominava o idioma. "Isso colaborou para eu me sentir muito sozinha e desamparada".

Pouco tempo depois, Thais começou a compreender melhor os momentos angustiantes que havia passado ao lado de Vida. "Me escutando falar, ia aos poucos curando minhas feridas e sanando as minhas dores". E foi a partir dessa experiência pessoal que ela criou o blog "Temos que Falar Sobre Isso", para reverter um quandro, em que, segundo ela, "mães são criticadas sem piedade, e acabam se isolando em silêncio com suas dores".

O PROJETO 

"O blog começou com a  proposta de ser uma plataforma de relatos anônimos de mães que passaram por dificuldades como a depressão pós-parto, problemas com a amamentação, dificuldades na gravidez, perda gestacional e neonatal, partos traumáticos, violência obstétrica, gravidezes de alto risco e prematuridade extrema", explica.

Desde a criação da página, em maio deste ano, mais de 150 relatos já foram publicados, incluindo de um pai que também procurou amparo nesta rede. Alguns profissionais como enfermeiras e psicoterapeutas também se uniram para ajudar as mulheres que contam suas vidas no "temos que falar sobre isso".

Para Thais, "cada relato é um pedacinho da alma de uma mulher" e por esse motivo é tão difícil escolher uma história mais marcante. Mesmo assim, ela lembra de um dos primeiros casos a que teve acesso por meio da página, quando uma leitora revelou ter sofrido de Psicose Puerperal (transtorno caracterizado por delírios, depressão e até ideias suicidas).

"Ela veio em busca de entender o que lhe havia passado, e com a nossa conversa, se motivou a relatar o caso dela para compartilhar com outras mulheres e também compreender a própria história. Passadas algumas semanas, o desabafo dela teve uma repercussão enorme, várias pessoas, inclusive profissionais, se dispuseram a ajudá-la, a conversar com ela", conta Thais. Com tanto apoio, a mulher voltou a fazer tratamento.

"É muito bom saber que a nossa página de alguma forma lhe deu forças e motivação. Vou acompanhando a história dela e fico mais do que feliz e agradecida por ela estar cada dia mais forte, e por estar dando a volta por cima como uma guerreira".

Os relatos naquele espaço virtual demonstram que as dificuldades nesse período são mais comuns do que se pensa. "O processo da maternidade é um salto no desconhecido. É preciso muito apoio e espaço para vivê-lo plenamente. Há momentos de ambivalência que podem ser muito confusos. É uma montanha-russa, precisa de muita entrega! A maternidade me ensinou a perder o controle e tantas coisas que ninguém fala pra gente. Ensinou que não existem fórmulas mágicas, roteiros prontos ou verdades absolutas. É um caminho único para cada mãe e seu filhotinho".

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